Luto - Poema de Geraldo Lavgne de Lemos que lembra os 100 mil mortos no Brasil

luto
pelos brasileiros mortos
nesse caminhar sórdido e cínico.
o povo não apresenta sintomas de convulsão.
tem histórico de cansaço, dor no peito e falta de ar.
aos poucos, perde o gosto das coisas.
lateja a cabeça, mudo e imóvel.
e eu: luto.
luto
em razão das valas, das fileiras, dos números.
dos zeros acumulados à direita.
que bandeira é essa a entrar no país
distendida sobre milhares de urnas?
estandarte em marcha, o mesmo laço de crepe
atado na lança que feriu o coração do povo
cinge a coroa de flores.
hastearão quantas flâmulas a meio-mastro
até poderes finalmente...?
[enquanto isso]
eu
: luto.
O autor Geraldo Lavigne de Lemos é advogado, trabalha em São Paulo. É também considerado um grande poeta da nova geração, publicado nas mídias e veículos mais conceituadas da literatura contemporânea. Tem muitos livros publicados. É membro da Academia de Letras de Ilhéus onde ocupa a Cadeira 23, cujo Patrono é Guttemberg Berbert de Castro, do fundador Ramiro Berbert de Castro. É sucessor de Mário de Castro Pessoa